Coach do Coach

Os melhores profissionais e as melhores equipas têm um denominador comum: serem peritos nas competências intra e inter que perfazem as relações interpessoais entre todos os objectivos, as ferramentas e os meios.


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Crises e de quem?

Li este artigo no Público, e a um dia do primeiro clássico que pode despoletar ainda mais a crise de um dos grandes ou até juntar todos no mesmo pacote (Braga não ganharia em Olhão e o Leixões vinha fazer uma graça à Luz) aqui vai para os interessados.

"As propaladas crises do Sporting e do FC Porto chamam-se Benfica. Há um ano atrás, cumprida igualmente a quinta jornada da liga, os sportinguistas seguiam na sexta posição, enquanto os portistas tinham aproveitado as duas rondas anteriores para saltar do sexto para o quarto lugar e, depois, para a liderança. Nada de muito diferente, quando comparado com o que se verifica hoje. Estamos ainda numa fase embrionária da época e, por isso, quaisquer juízos definitivos podem revelar-se precipitados. Até por isso, salta à vista que o que mudou verdadeiramente na cabeça dos adeptos do Sporting e do FC Porto foi a convicção de que o actual Benfica está diferente. E para muito melhor.

A tomada de consciência dessa realidade reflecte-se igualmente no estado de espírito dos benfiquistas, que têm enchido os estádios numa demonstração de fé e crer na equipa que fez com que os seus cinco jogos realizados até ao momento já tivessem registado mais de 160 mil espectadores. As viagens do Benfica a alguns estádios deste país são, mais do que nunca, um verdadeiro abono de família.O entusiasmo é mais do que justificado. O Benfica tem hoje, talvez, o melhor e mais equilibrado plantel desde há 17 anos, quando Toni (que substituíra Tomislav Ivic) dirigia uma espécie de dream team onde se destacavam Mozer, Paulo Sousa, Paneira, Schwarz, Rui Costa, João Pinto e Rui Águas. O Benfica seria campeão na época seguinte, feito que, de então para cá, só voltaria a ser repetido no medíocre campeonato de 2004/05, com uma formação recheada de "patinhos feios" e comandada pela "velha raposa" italiana Giovanni Trapattoni.

As referências aos treinadores não surgem aqui por acaso. Durante estas quase duas décadas, o Benfica viu serem sucessivamente fracassadas as apostas na generalidade dos técnicos contratados, a começar por Artur Jorge (1994/95), sempre apontado a dedo como o grande responsável pelo início da fase das "vacas magras", fruto da sua aposta numa polémica "limpeza do balneário" e na contratação de jogadores medíocres e tidos por baratos (na altura, ficou célebre a afirmação de Toni, então nas funções de director desportivo, de que andava por essa Europa fora a tentar comprar jogadores com um saco de caramelos...). No meio desta lista infindável de técnicos perdedores houve casos de incompetência e/ou inadaptação à realidade do clube, mas também situações em que os dirigentes do Benfica não tiveram a paciência e o saber suficientes para perceber a qualidade do trabalho de homens como José Mourinho (2000/01), Jesualdo Ferreira (2002/03) e Fernando Santos (2006/07), curiosamente todos eles treinadores portugueses.

A verdade é que nunca a contratação de qualquer deles criou uma onda de entusiasmo idêntica à que hoje existe em torno de Jorge Jesus. Isso aconteceu por vários motivos. Primeiro, em resultado da imagem criada pelo próprio Jesus nos últimos anos, em que passou a ser visto como um técnico preparado, sagaz e, já agora, muito pró-activo no banco de suplentes (mesmo que as vantagens disso não sejam totalmente consensuais), e também por se tratar de alguém motivador, tanto para o balneário como para o exterior (nos últimos dias, passou mesmo a vender a ilusão de estar a "reavivar o Benfica de Eusébio"), e com coragem para investir num futebol positivo e ofensivamente avassalador. Depois, porque - insistimos - o Benfica tem um quadro de jogadores de fazer inveja a qualquer um. Finalmente, porque os adeptos do Benfica andam de tal forma sedentos de vitórias que inflacionam todo e qualquer sinal de retoma. O mesmo se poderia, de resto, dizer relativamente à comunicação social, sobretudo a desportiva (mas não só), onde os interesses comerciais acabam sempre por influenciar as tomadas de decisão editoriais.A esses adeptos aconselha-se, no entanto, algum comedimento, até na distribuição dos méritos.

Porque algum tem também de ser atribuído a quem, nos últimos anos, investiu na contratação de jogadores da qualidade de Di María, David Luiz, Sidnei, Cardozo, Aimar, Ruben Amorim, Fábio Coentrão e Maxi Pereira. É verdade que ninguém tinha conseguido exponenciar o seu valor como aconteceu com Jesus, mas será injusto ignorar o facto de o treinador ter encontrado uma boa herança na Luz. E com uma vantagem: o actual treinador do Benfica tem hoje, entre os diversos responsáveis da SAD, quase o exclusivo das declarações públicas. O seu protagonismo tem permitido, por exemplo, que Luís Filipe Vieira se mantenha tranquilo debaixo do guarda-chuva do seu técnico, evitando assim o erro cometido nas últimas épocas, com algumas declarações extemporâneas que só ajudaram a colocar pressão negativa e desnecessária sobre a equipa.

É inteiramente justo o reconhecimento dos méritos de Jorge Jesus, bem como da qualidade futebolística revelada até ao momento pelo Benfica, que mostra outra atitude, outra intensidade e outros processos de jogo, mesmo quando joga menos bem. Mas os excessos de confiança acabam quase sempre por ser perniciosos e os adeptos do clube devem aguardar pelos testes verdadeiramente decisivos e conclusivos, que ainda não aconteceram. O Benfica defrontou, sucessivamente, no campeonato o Marítimo, Guimarães, Setúbal, Belenenses e Leiria, equipas de níveis diferentes, mas nenhuma delas da primeira linha do futebol nacional. Mesmo assim, os vimaranenses e os leirienses até estiveram muito perto de fazer tropeçar o Benfica e fizeram o suficiente para poderem dizer que é possível, mesmo sem que para isso seja necessário contar com a deusa da fortuna que abençoou o Marítimo na jornada de abertura. Algo de idêntico se poderia acrescentar sobre a qualidade dos adversários que o Benfica encontrou na Taça UEFA (Vorskla Poltava e BATE Borisov).

Mas se, aos adeptos e aos responsáveis benfiquistas, se aconselha alguma sapiência na gestão do foguetório encarnado, aos seguidores e dirigentes do FC Porto e do Sporting recomenda-se que tomem consciência de que este Benfica parece preparado para durar até ao fim e tem de ser tomado muito, mas mesmo muito, a sério. Porque, desta vez, não é apenas um produto para vender ilusões. Tem mesmo substrato. "

6 comentários:

Pedro Barbosa disse...

Bom artigo :)

http://diario-de-treinador.blogspot.com/

Rui Gomez disse...

és benfiquista??????... Dos sedentos??? ;)

Rui Lança disse...

Sim. E não, tento ser o mais racional possível, aliás...critico mais que elogio...deve ser defeito! Tudo bem ctg?

Tiago Viana disse...

O artigo fala de vários pontos interessantes.
A afluência de público aos jogos tem efeitos na equipa, nos patrocinadores e nas receitas do Benfica e dos clubes com quem tem jogado (felizes os que apanharam o Benfica nas 1ªs jornadas que já fizeram a maior receita da época)
Mas fala tb de um aspecto importante. O Benfica ainda não jogou com nenhuma equipa de topo.
Mas alguém tem dúvida que mm assim está a render mt mais?
Ninguém. Porquê?
Porque a evolução é enorme.
Não se movimentam nos processos ofensivos ou defensivos ao calhas.
Na minha opinião o calendário até é mt favorável porque dá tempo ao treinador para consolidar os processos da equipa antes das grandes decisões.
O Queiroz disse que isso tinha beneficiado o Scolari na sua prestação como seleccionador.
Veremos no caso do Jorge Jesus.

Rui Gomez disse...

Concordo com algumas coisas... sobre o SLB! Pelo menos a história das receitas, movimenta a economia... Ou não!
De resto, vai rolando... Não te vejo na TW há algum tempo. A minha vida, vai rolando... Freelancer - é a moda! Na animação desportiva e na educação pelo desporto está mau... mesmo mau! Por acaso tenho umas ideias sobre empreendedorismo no mundo da gestão desportiva mas queria trocar umas impressões contigo!
E o Inatel? Corre ou vai correndo?
Abr

Rui Lança disse...

Olá Rui, vou-te mandar depois um mail. Quanto ao Benfica...bem, é o país que temos que se coloca de cócoras par o futebol. Lembro-me talvez unicamente de Rui Rio...que não o fez a favor do Porto...mas tentou proteger mais o Boavista.

Lembro-me...que fazem uns anitos quando Sócrates aumentou os impostos de 19% para 21%...um dia após a última conquista do Benfica no Campeonato após a última jornada 1-1 no Bessa. Quer dizer sempre algo...