Os tempos correm e os recursos - especialmente os financeiros e económicos - começam cada vez mais a diminuir. Face a estas dificuldades, para além das que sempre existiram como a falta de orientação estratégica ou até existencial, para lá dos recursos humanos descontextualizados, e outro tipo de dificuldades, a temática da razão de existência de inúmeras entidades desportivas (e não só, atenção) volta a ter uma razão de existir.
Observamos os seus papéis sociais e desportivos, comparamos planos, acções, movimentos, estratégias, cruzamos informação, focamo-nos nas pessoas e não nos seus propósitos, escondemos informação e distribuímos um mapa pensando que tal significa o seu território. Sempre foi tempo de pensar a distribuição de funções, tarefas e razões de (in)existência dos Institutos, Fundações, Confederações, Comités, Associações, etc.
A identidade das organizações reúne vários itens: cultura de acção, história, visão, missão, procedimentos e valores de actuação. Os tempos modernos e as suas 'regras' de actuação convidam as organizações a alterarem procedimentos, formas de estar e viver. Convidam ou forçam, a mudança torna-se um sinal natural e/ou de segmentação. Será desta que alguém de direito (e deveres) se debruçará para a não convergência de todas as organizações desportivas em prol de uma só estratégia?
Deveremos continuar a multiplicar papéis, subverter o papel dessas mesmas organizações, competir entre elas para os mesmos fins? Gastar e investir recursos para os mesmos fins, com tanta tarefa que vai a meio ou nunca foi mesmo iniciada? Não seria mais simples, entre todos, federações e associações incluídas, decidir quem ficaria com o papel formativo, do associativismo, coordenação do desporto autárquico, competitivo, representações internacionais, diálogo com as federações, conselhos que não se atropelem, focar as populações especiais, etc?
Observar a forma como o desporto em outros países está distribuído e organizado seria um bom exercício. Existem exemplos para quase todos os gostos, e mesmo um País como Itália, que pode ser sempre 'acusado' de possuir também os nossos hábitos latinos, está organizado de uma forma bem mais realista e operacional, em que pelo menos, existe uma entidade que implícita ou explicitamente, assume a coordenação e a última tomada de decisão.
Em Portugal, tal como as várias intervenções que são feitas - por exemplo - nos passeios da rua, uma vez para a electricidade, outra vez para a água, outra para a Zon ou a Meo, etc, mas nunca ao mesmo tempo para se poder distribuir as tarefas pelo tempo e proporcionar sempre tarefas aos trabalhadores, mesmo que isso implique a destruição do passeio vezes sem conta. O sistema desportivo é semelhante, proporciona e cria as mesmas tarefas e funções multiplicadas por diversos, para sustentar verbas a serem gastas por diferentes territórios pessoais e egos.
7 comentários:
De facto e a continuarmos nesta politica "destrutiva" este país não irá longe.
Caberá aos futuros "pensadores" deste país pensarem em politicas mais agressivas, no bom sentido claro, não destrutivas e a longo prazo. Não pensar no imediato, mas sim num futuro proximo.
Abraço
CB
Caro Rui,
Apraz-me comentar que falta um plano em praticamente tudo em Portugal e no desporto, claro, não há excepções.
O acto de planear é sem dúvida um sinónimo de desenvolvimento.
Confronto-me por vezes com acérrimos defensores da "inutilidade do planeamento" pela justificação recorrente da "impossibilidade da implementação dos planos na sua totalidade".
Após várias décadas sem rumo, observo, que os resultados desportivos de mérito em Portugal, só são recorrentes quando existe por trás deles um conjunto de indivíduos que os vivem na primeira pessoa.
O planeamento é uma actividade pouco "experimentada" nas Associações e Federações e quando existe é porque esse organismo goza de alguma estabilidade que lhe permite "dar-se ao luxo" de ter um plano.
No campo da formação por exemplo, porque não centralizar a formação de tronco comum entre os vários desportos e aliviar as federações dessa carga, dotando as formações de mais qualidade e sobretudo reduzindo custos?
Um abraço
Horácio
O que falta em Portugal é um Projecto, que defina prioridades de acção e os caminhos por onde as associações, federações e clubes se possam seguir.
Não é prudente achar que um país com 10 milhões de habitantes possa ser lider e obter resultados em todos os desportos. Há que definir prioridades, investir na formação e evoluir qualititivamente ao nível dos recursos humanos.
Deve haver uma reformulação dos quadros directivos das federações, associações e clubes... basta de incompetência e falta de seriedade. Só após esta reformulação se poderá evoluir para a construção de um projecto sério e ambicioso.
Abraço
PMV
Caro Pedro,
Concordo em pleno.
Registo com muito desagrado que, por exemplo, a Confederação Desporto de Portugal, tenha neste momento um plano de formação que foi elaborado com base numa avaliação de necessidades e portanto direccionado para as necessidades de formação de um publico muito concreto (federações a associações) e, mesmo assim, estas entidades não divulguem e participem de modo activo nas acções propostas pela CDP.
Abraço
Horácio Lopes
O IDP já trouxe a Portugal por diversas vezes os responsáveis por um dos melhores e mais eficazes programas de desenvolvimento desportivo: LTAD (long-term Athlete Development).
Este programa pressupõe o desenvolvimento desportivo de toda uma população ao longo da sua vida, procurando atingir melhores resultados desportivos e ter uma população mais saudável.
Em países como a Austrália e o Canadá, ele foi desenvolvido a partir das estruturas governamentais e ramificado para TODAS as federações e daí para os clubes, com objectivos bem definidos a longo prazo (porque no desporto os resultados não são imediatos).
Em Portugal o LTAD, foi adoptado, e bem, por algumas federações ou alguns clubes. É esta visão microsistémica que trava todo o processo de desenvolvimento desportivo de um país. No fundo cada um trabalha por si!
Abraço
Pedro Marques Vidal
Julgo que os diversos pontos levantados têm a sua pertinência. O texto introdutório do Rui retrata de facto um dos grandes problemas da nossa sociedade como um todo e para o que mais nos importa, o desporto em particular.
Revejo-me e subscrevo os diversos comentários produzidos, mas gostava, possivelmente por defeito de formação, de tentar encontrar a porta de saída deste "cenário"...
Todos nós, fruto das nossas experiências e realidades em que nos inserimos, conseguimos identificar os problemas que nos assolam, mas creio que o fundamental é perguntarmos o que podemos nós fazer para alterar e especialmente melhorar esta realidade?..
Temos um problema claro de lideranças, que se inicia no topo da pirâmide e prossegue até às suas bases. Sem dúvida que alterações profundas são necessárias, e bem sabemos que a maioria de nós, se não praticamente todos não tem qualquer poder para as promover ou desencadear.
Dito isto, admito a possibilidade de ficarmos à espera que surja alguém iluminado que um dia perceba esta problemática e trace um caminho para o futuro, tendo poder para o implementar. Prefiro no entanto adoptar uma postura pro-activa e perguntar o que posso fazer eu para melhorar o meio onde me insiro?.. Acredito que se todos assumirmos essa postura e procurarmos fazer o que estiver ao nosso alcance, a nossa sociedade e o nosso desporto em particular conseguirão claras melhorias...
Deixo-vos a pergunta, o que pode cada um de nós fazer por si, para a melhoria do todo? Ou será este um caminho condenado ao fracasso?..
Luís Guerra
Viva Luís,
Concordo que a derradeira pergunta seja essa e pela sua pertinência proponho que seja aberta nova discussão com a questão em título, sob pena de se perder no meio destes textos.
Tenho intenção de ser o primeiro a comentar e ajudar a alinhar ideias para que juntos consigamos de facto fazer alguma coisa.
Abraço
Horácio Lopes
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