Coach do Coach

Os melhores profissionais e as melhores equipas têm um denominador comum: serem peritos nas competências intra e inter que perfazem as relações interpessoais entre todos os objectivos, as ferramentas e os meios.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Artigo no jornal Record - análise ao treinador Jorge Jesus

Uma visão sobre os comportamentos de Jorge Jesus, treinador de Futebol do SL Benfica. Aqui vai o link:

http://www.record.xl.pt/opiniao/artigos/interior.aspx?content_id=823057

Durante a época desportiva escreve-se muito sobre os treinadores. Dos que ganham, perdem, os promissores, os que fracassam, o que devem fazer e que competências devem possuir. Sempre com um especial destaque nos resultados, como se fosse o único indicador de avaliação que os acompanha durante a sua carreira.


Jorge Jesus convive bem com isso, tal como tantos outros. No entanto, deixa transparecer ultimamente uma certa inquietude dado que os cenários não correm como o esperado. Um conjunto de afirmações que saíram fora do perfil que o treinador benfiquista nos tem habituado. Mais genuíno, menos ator, tem deixado transparecer outros sentimentos e emoções, o que, considerando os acontecimentos, é perfeitamente normal.

O treinador em geral vive num clima cultural perverso, dado que o senso comum relacionado com o ato de ser treinador é que o mesmo pressupõe o domínio e controlo total, o que acontece com a sua equipa e, como tal, o retorno é uma exigência feroz de todas as responsabilidades dos resultados por parte dos adeptos e dirigentes.

O treinador benfiquista assume que quer ter um conhecimento claro e profundo de tudo o que rodeia a sua equipa. Não consegue esconder isso. Dos objetivos, na análise dos recursos necessários e, influenciado ultimamente por uma veia académica e vivencial do Professor Manuel Sérgio, tem direcionado muito o seu discurso para as ciências comportamentais, inteligências emocionais, uma forma diferente e mais sistémica de alcançar o sucesso.

Jorge Jesus tem sido alvo nos últimos tempos, e bem, de um processo em que o treinador tem sido também ele treinado na forma como comunica, enfrenta os jornalistas e adeptos, na empatia com os vários elementos que o rodeiam. Um treinador do treinador. Uma mudança que só não vê quem não quer.

O treinador português, apesar de seguir algumas das correntes que defendem as equipas autónomas, denota nos seus hábitos adquiridos um desejo imenso para tomar o controlo de todo o treino e ambiente que o rodeia. Nos jogos, tenta controlar todos os movimentos dos atletas e da sua equipa. A frase “o treinador não joga” não se encaixa de todo no perfil de Jorge Jesus.

Na cabeça do treinador benfiquista há um conflito entre aquilo que sempre defendeu e a corrente nova para si que é a autonomização das equipas. Da auto-responsabilização dos seus atletas, da capacidade dos mesmos conseguirem compreender, questionar e interligar todos os dados que possuem para ganhar maior capacidade de tomar melhores decisões sozinhos.

Uma luta intensa na sua mente. Preciosa, mas difícil.

Rui Lança - Formador e Coach de Treinadores e Equipas. Colaborou com a FPF e Liga PFP. Pós-Graduação em Liderança e Gestão de Pessoas. Licenciado e Mestre em Ciências do Desporto pela FMH. Autor de 4 livros, três na área da gestão desportiva e o último ‘Como formar equipas de elevado desempenho’ com o contributo na vertente desportiva de Paulo Bento, Pedro Proença, Mário Palma e Mário Gomes, Mónica Jorge, Mats Olson e Domingos Soares Oliveira

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