Na minha vida conheci muitas profissões. Dei formação a muita pessoas e em diversos países e até em continentes diferentes. Tirei 3 ou 4 cursos superiores em áreas muito distintas e fiz trabalho de reinserção social alguns anos. Fui Professor e ainda sou aluno. E das várias categorias profissionais que me foram passando pelas 'mãos', a de treinador é talvez uma das mais eficientes e porventura, insatisfeita e ambiciosa simultaneamente.
Gosto do termo 'pensar como treinador'. É alguém que nunca perde a noção de que existem objectivos. E que para isso, há que pegar no que há, conseguir ir buscar o que não há, seja recrutando seja a trabalhar, evoluir, treinar, avaliar, motivar, reforçar, etc., e trabalhar novamente. Muito. Alguém que se dedica a uma causa quase 24 horas por dia, pois, faz muitas directas a ver jogos e competições. É alguém que nas folgas vai ver competições.
Saberão muito? Talvez. De tudo? Não. Ninguém sabe de tudo. Existem pessoas que aperfeiçoam e aplicam / transferem muito bem o seu conhecimento. Os treinadores procuram constantemente saber mais e que esse conhecimento se transforme numa mais valia para concretizarem os seus objectivos.
Também eles treinam (deveriam) para aumentarem os seus conhecimentos técnicos, tácticos e físicos. Uma menor percentagem já aceita melhor a ideia de serem também eles alvo de um processo de treino (comporta)mental. Um número em crescendo começa a perceber os inúmeros ganhos que podem atingir se forem observados e analisados durante os seus treinos e competições para trabalhar o seu impacto comunicacional, como lidam com alguns bloqueios, como motivam, como delegam, como lideram, o que observam e acima de tudo, se conseguem utilizar as ferramentas que têm na altura em que as mesmas são necessárias.
E como é que um Coach pode compatibilizar o seu trabalho com um treinador? Para alguém que lidera, e num ambiente tão dinâmico e desafiante como é o desporto, ter alguém com uma visão realizada a partir de pontos de análise diferentes da competição, dos atletas, das equipas, etc., pode ser refrescante e originar novos pontos de vista para o treinador. Alguém em que o foco não está no gesto técnico, organizacional ou táctico do atleta A ou da equipa, mas sim, no processo ou na origem das 'coisas' que correm bem ou menos bem. Alguém que se dedica a observar também o Treinador e a realizar perguntas simples como...'Porquê?', 'O que querias atingir com isto ou aquilo?', que faz sinergias diferentes entre acções, reacções, consequências, alinhamentos. Alguém que permite ter uma visão diferente sobre as dinâmicas do grupo.
É uma peça de um puzzle que permite acima de tudo, colar várias peças. Peças distintas muitas vezes, mas que se foca nas competências que colam e potenciam os recursos espectaculares que por vezes existem.
Coach do Coach
Os melhores profissionais e as melhores equipas têm um denominador comum: serem peritos nas competências intra e inter que perfazem as relações interpessoais entre todos os objectivos, as ferramentas e os meios.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
O treinador que não sabe comunicar...não pode treinar - II
Em tempos escrevi para o jornal Record um artigo que tinha como temática principal da comunicação e da sua enorme importância para quem era treinador. A questão a limpar já é: todos nós comunicamos. É um processo bastante natural e por isso, para lá da comunicação intrapessoal, acabamos sempre por comunicar com os outros à nossa volta, seja voluntária ou involuntariamente.
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Costumo afirmar que o treinador não joga, mas participa (e muito) diretamente! E a sua comunicação tem um peso preponderante na acção dos seus atletas. Participa activamente durante os treinos e nas conferências, lidera os atletas, gesticula, fala com os atletas individual ou colectivamente, aponta, dá o exemplo, mas não pode ser ele a executar os movimentos técnicos ou tácticos durante a competição. Logo exige-se que consiga transmitir o que quer de forma muito eficiente.
Alguns estudos afirmam mesmo que a relação e a comunicação que o treinador constrói com os seus atletas tem um peso enorme no desempenho dos atletas e das equipas.
Porque os atletas, de forma consciente ou inconsciente, também podem estar sempre a observar e a tirar as suas conclusões. E isto passa pela gestão do próprio treinador do seu impacto comunicacional e pela importância que o mesmo assume.
A comunicação é o que as pessoas realizam para trocarem informação entre si, utilizando sistemas simbólicos e processos para alcançarem esse objetivo. O treinador que até possa saber muito de tática, se não conseguir transmitir essa informação que recolhe para os seus atletas ou adjuntos, de nada vale, porque essa informação só será útil para uma pessoa, que não joga, o treinador. Necessita de transformar essa informação em acções e, para isso, tem de explicar aos outros o que é necessário que se faça. Não como ele entenderia mas como os atletas entenderão!
Não é fácil alterar os nossos hábitos comunicacionais, nem comportamentais. Mas não querer arrasa qualquer possível alteração. É interessante verificar que alguns treinadores não mudam a sua forma de comunicar e ainda obrigam que sejam todos os outros a adaptar-se a ele.
Acrescenta-se que numa equipa e num jogo é importante ter presente que todo e qualquer comportamento é comunicação. Qualquer comportamento ou ausência de comportamento irá proporcionar um outro comportamento que bem interpretados são ferramentas muito importantes para quem lidera e também para os próprios atletas no seio das equipas.
É também verdade que o treinador autoritário foi prevalecendo, até porque interessava apenas dizer aos atletas quais eram as tarefas a executar e com isto a comunicação utilizada era outra. Com isto resultaram jogadores com pouca capacidade de decisão, dependentes do treinador e das suas soluções. Actualmente a ênfase da aprendizagem é colocada na necessidade de proporcionar momentos de problematização ao atleta e de favorecer a autonomia decisional. E o treinador passou a ser visto como um facilitador do processo de aprendizagem, com estratégias de instrução, como o questionamento para desenvolver a consciência táctica e a compreensão do jogo, o desenvolvimento de afectividade e a responsabilização dos atletas no cumprimento das tarefas, para fomentar no atleta o comportamento prospectivo em detrimento do meramente reactivo. E aqui a comunicação necessária é muito, mas mesmo, muito diferente.
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Costumo afirmar que o treinador não joga, mas participa (e muito) diretamente! E a sua comunicação tem um peso preponderante na acção dos seus atletas. Participa activamente durante os treinos e nas conferências, lidera os atletas, gesticula, fala com os atletas individual ou colectivamente, aponta, dá o exemplo, mas não pode ser ele a executar os movimentos técnicos ou tácticos durante a competição. Logo exige-se que consiga transmitir o que quer de forma muito eficiente.
Alguns estudos afirmam mesmo que a relação e a comunicação que o treinador constrói com os seus atletas tem um peso enorme no desempenho dos atletas e das equipas.
Porque os atletas, de forma consciente ou inconsciente, também podem estar sempre a observar e a tirar as suas conclusões. E isto passa pela gestão do próprio treinador do seu impacto comunicacional e pela importância que o mesmo assume.
A comunicação é o que as pessoas realizam para trocarem informação entre si, utilizando sistemas simbólicos e processos para alcançarem esse objetivo. O treinador que até possa saber muito de tática, se não conseguir transmitir essa informação que recolhe para os seus atletas ou adjuntos, de nada vale, porque essa informação só será útil para uma pessoa, que não joga, o treinador. Necessita de transformar essa informação em acções e, para isso, tem de explicar aos outros o que é necessário que se faça. Não como ele entenderia mas como os atletas entenderão!
Não é fácil alterar os nossos hábitos comunicacionais, nem comportamentais. Mas não querer arrasa qualquer possível alteração. É interessante verificar que alguns treinadores não mudam a sua forma de comunicar e ainda obrigam que sejam todos os outros a adaptar-se a ele.
Acrescenta-se que numa equipa e num jogo é importante ter presente que todo e qualquer comportamento é comunicação. Qualquer comportamento ou ausência de comportamento irá proporcionar um outro comportamento que bem interpretados são ferramentas muito importantes para quem lidera e também para os próprios atletas no seio das equipas.
É também verdade que o treinador autoritário foi prevalecendo, até porque interessava apenas dizer aos atletas quais eram as tarefas a executar e com isto a comunicação utilizada era outra. Com isto resultaram jogadores com pouca capacidade de decisão, dependentes do treinador e das suas soluções. Actualmente a ênfase da aprendizagem é colocada na necessidade de proporcionar momentos de problematização ao atleta e de favorecer a autonomia decisional. E o treinador passou a ser visto como um facilitador do processo de aprendizagem, com estratégias de instrução, como o questionamento para desenvolver a consciência táctica e a compreensão do jogo, o desenvolvimento de afectividade e a responsabilização dos atletas no cumprimento das tarefas, para fomentar no atleta o comportamento prospectivo em detrimento do meramente reactivo. E aqui a comunicação necessária é muito, mas mesmo, muito diferente.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
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