Hoje não. Através e após um conjunto de experiências sociais, organizacionais, educacionais e desportivas, cada vez mais me convenço que aquilo que é o transversal é o que pode diferenciar. Não porque é igual ou acessível a todos, mas sim, porque é aquilo que está presente em todos nós e é aí que está uma das chaves do sucesso: ser perito e eficiente no que é a base do nosso comportamento e desempenho. Nas nossas cognições, crenças e sensações.
E no desporto, no treino e na liderança, aquilo que é transversal são as pessoas implicadas nos processos e nos resultados. Nos atletas, treinadores, dirigentes, árbitros e líderes. Claro que cada um destes tem um contexto diferente. Mas será que esse contexto tem mais força naquilo que é a nossa resposta do que nós próprios? Se calhar sim, mas não deve. E quantos de nós tem um autoconhecimento tão claro que possamos descrever-nos com exatidão e com isto, saber em que concretamente somos bons, menos bons, pontos comportamentais fortes e áreas a trabalhar?
O coaching no desporto veio para ficar. Seja com este nome ou com outro, o trabalho realizado na análise dos comportamentos, das nossas ações ou reações, do acompanhamento não ao que o treinador faz mas como o faz, são cada vez mais ferramentas que nos possibilitam ter menos dúvidas sobre as verdadeiras razões que nos levam a comportar de determinado modo. E as vantagens e desvantagens. A saber como e onde alterar para atingir o que se pretende. Perceber a nossa mente e com isso, melhorar o nosso impacto comunicacional, as nossas abordagens, os nossos estilos quando estamos a fazer algo.
Mas não interessa apenas compreender o que fazemos e o as variáveis do como, onde, porquê ou até, com quem criamos mais ou menos sintonia funcional. Interessa também compreender o que somos, até porque isso pode ser a base de explicar o comportamento de um treinador, atleta ou a identidade da equipa.
Nos desportos americanos, fruto do seu processo de cultura e educação desportiva, os treinadores são obrigados durante o seu percurso de crescimento e desenvolvimento de competências, a realizar constantemente processos de introspeção, de análise, a terem indicadores para se avaliarem e não apenas avaliarem os atletas. O coaching possibilita isso. Um processo estruturado de observação, por exemplo. Usualmente acompanho treinadores. Observo, escuto, aponto, analisa-se e trabalha-se a informação. Esta é muito rica, nós não precisamos de muito mais. Com a informação conseguimos garantir os pontos de partida. Analisar corretamente a informação que os comportamentos nos dão é que não é nada fácil.