Coach do Coach

Os melhores profissionais e as melhores equipas têm um denominador comum: serem peritos nas competências intra e inter que perfazem as relações interpessoais entre todos os objectivos, as ferramentas e os meios.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Jorge Jesus

Os seres humanos têm uma certa capacidade para julgar com muito mais enfoque nos últimos acontecimentos. Não acontece apenas no desporto, mas existirão dezenas ou centenas de exemplos no desporto, e no futebol propriamente dito, de alguns treinadores que foram campeões num ano e no ano a seguir foram demitidos por maus resultados. Apenas alguns jogos (Inácio foi despedido do Sporting na época seguinte depois de ter ganho um Campeonato pelos ‘verdes’, Fernando Santos foi demitido à 1.ª jornada depois da última época ter estado na luta até à última jornada, etc.).

Esta época desportiva Jorge Jesus vive uma espécie de purgatório depois de há uns meses ter sido considerado um excelente treinador, um exemplo, pois era um treinador sem formação académica e que nem a 4.ª classe possui, um mestre da táctica, etc. Teria o seu mérito, o Benfica era Campeão e tinha demonstrado um dos melhores ‘futebóis’ dos últimos tempos em Portugal. Isto apesar dos defeitos na gestão do plantel, que ficaram sempre ofuscados pelas diversas goleadas e excelentes exibições e carreira europeia (que terminou nessa mesma discrepância de gestão de alguns casos internos do plantel).

Na época 2009/10, Jesus conseguiu algumas proezas ao nível da potencialização de jogadores. Extremos mesmo! Conseguiu recuperar quase das últimas o Fábio Coentrão! Tocou no ponto relativamente a Di Maria. Conjugou como ninguém a capacidade de Ramires tornar todos os que com ele jogassem tornarem-se excelentes jogadores (caso mais evidente, Javi Garcia). Recuperou de um ano muito mau Aimar e colocou Saviola a sonhar com a ida ao Mundial, mesmo que fosse apenas na cabeça dos dois.

Esta época, Jorge Jesus vive quase o oposto. Por diversas razões. Umas relacionadas com opções mais estruturais e de direcção que da sua responsabilidade. Outras – penso eu – apenas da sua responsabilidade: empréstimo de alguns jogadores (Urreta apenas técnico? Rodrigo, que custou 6 M €…como pode ser emprestado? o Benfica é algum Real Madrid que empresta jogadores de 6 M €?, insistência de outros (Peixoto é talvez o caso mais evidente). A preparação da época é uma responsabilidade de todos! Se Vieira também serve para ir negociar…porque terá menos responsabilidades noutros assuntos? Jorge Jesus queixa-se da ida dos atletas ao Mundial…muito tempo a resmungar, menos tempo a improvizar soluções para esses problemas.

Jorge Jesus tornou-se menos interventivo. Mais arrogante. A meu ver, menos astuto. Com menos capacidade de surpreender. Tem para este ano um grande desafio: não perder a embalagem que ganhou na época anterior que o prejudique, quer interna quer externamente. Que o impeça de saltar para um Campeonato mais competitivo, embora para uma equipa com menos ‘pujança’ que o Benfica.

Jorge Jesus tem inúmeras qualidades. Não duvido nada. Ganharia muito mais se as equilibrasse com factores como a humildade, melhor comunicação e menos aparições, melhor impacto comunicacional. Não se consegue medir se é melhor que A ou pior que B. Valem os números. As vitórias ou derrotas. A capacidade de cair e levantar-se várias vezes.

Jorge Jesus tem de fazer consigo o que fez com tantos outros jogadores. Ir à boleia de uma boa campanha da equipa para sair para outros voos. Sabe que Ramires e Di Maria (mais este) usufruiram de boa visibilidade para irem para outros clubes. Jesus sabe que pode perder muito com más campanhas internas. UEFA será uma miragem, não há por enquanto qualidade, experiência e alinhamento para irem longe. É verdade que faltam 2 meses e meio, muito ainda, mas ter-se-á de remar mais e mais forte.

7 comentários:

Peter disse...

Rui,

Parabéns por mais um excelente artigo. Acho que deve ser a direcção do clube a guiar um treinador sem formação académica e de base (educação). O JJ tem que ser "anestesiado" verbalmente pela direcção do clube, tem que ser ensinado e educado de uma maneira muito particular. Pelo SLB passaram e passarão dezenas de treinadores que, seguindo o bom exemplo do que acontece no FCP, deverão ter uma estrutura sólida que permita ao clube mudanças de treinador sem que a base se altere significativamente. Com alguma sorte, teremos treinadores que nos levem mais longe do que o esperado. Agora sem uma consistente estrutura organizacional, não podemos criar expectativas demasiado altas em relação aos treinadores que venham para o SLB, exigindo que estes consigam resultados que perdurem no tempo. Isso parece-me que nunca vai acontecer...

Anónimo disse...

Parece-me mais interventivo desde há umas jornadas. Vamos ver ;)

Paulo Mateus Nunes

Rui Lança disse...

Pedro,

Parece-me que essa situação já há muito se discute para os nosso lados, a necessidade de ter uma estrutura imune a qualquer treinador que passe, que consiga ter uma sustentabilidade que não seja abalada por ninguém!

Rui Lança disse...

Paulo,

Como dizia um amigo meu hoje, se JJ se concretizar naquilo em que ele é mesmo bom, o Benfica voltará a ser quase tão fascinante. Algo que aconteceu nos últimos tempos, em que não se perdeu com folclorices.

Manuel Oliveira disse...

Jorge Jesus não tem estudos mas tem a 4ª classe, caro Rui!
Concordo com a maior parte do que dizes no post. Felizmente para o próprio e para o Benfica, Jesus parece finalmente ter percebido que tem de pensar melhor antes de falar para o exterior.

Abraço.
Blog do Manuel

Carla Figueiredo disse...

De acordo, mas tem de se saber controlar melhor e ser mais auxiliado nesse sentido.

Joaquim Ramalho disse...

Os bons princípios do bom jogo do JJ mantêm-se e o potenciar de valores também. Contudo, como escrevi no início da época o deslumbramento nunca é bom conselheiro de ninguém e foi neste aspecto que no início da época o JJ e a Administração, apesar de avisados de épocas anteriores erraram redondamente com custos que se perspectivas de fatais para conquistar a Liga pelo menos..

Joaquim Ramalho